quinta-feira, 6 de setembro de 2018

DE VOLTA! ENQUANTO EU CORRIA CONTRA O TEMPO PARA SALVAR MINHA MÃE QUE AGONIZAVA NO CORREDOR DA MORTE DA SAÚDE PÚBLICA, UM CANDIDATO AO GOVERNO DO ESTADO RECORRIA À ARTIMANHA PARA CALAR MINHA VOZ

O blog está de volta, depois de ter ficado por quase um mês sem novas postagens, em virtude do abalo que este editor teve com a perda recente da sua genitora. Raimunda Ribeiro dos Santos, a dona Diquinha, como era carinhosamente chamada partiu deste plano aos 90 anos de idade no último dia 16/08, após ser acometida por um AVC fulminante, deixando-nos muita dor, saudades, mas também  bons exemplos e boas recordações. Descanse em paz, minha querida mãezinha!

Bom, mas neste post de retorno, aproveito para compartilhar um pouco da via crucis que passamos com a saúde pública neste momento final de vida de minha mãe, que reflete na realidade da saúde pública oferecida aos maranhenses. E ainda, os rumores de um processo contra este modesto espaço por um candidato ao governo do Estado.

E o que dizer da saúde pública? Uma vergonha, uma tragédia, um desrespeito cavalar a dignidade humana. Um sistema mal gerenciado, desestruturado, porque não dizer, falido, que é o SUS.

Só pra exemplificar essa vergonha, no dia em que minha genitora caiu doente, a levei em situação desacordada à UPA do Bacanga. Ali o atendimento é bastante deficitário, bem diferente daquilo que os gestores alardeiam. Ao invés de dignidade, descaso. Logo na chagada falta maqueiro. Dizem que só tem um profissional, o que é insuficiente para a demanda, e em alguns momentos, nenhum. Ou seja, o acompanhante, se quiser que coloque seu doente na maca ou numa cadeira e o leve de qualquer jeito. Foi o que fiz, tive que lutar sozinho.

Como cheguei a desabafar na oportunidade nas redes sociais, minha mãe foi atendida por volta das 9 horas da manhã, mas só no início da noite o médico nos informa que o caso dela, possivelmente, se trataria de AVC, o que se confirmaria apenas com uma tomografia, esta que seria realizada em cerca de 12 horas, mas para isso a paciente precisaria estar internada, o que seria impossível, pois faltava leito na unidade. Ok, mas não tem como encaminhar para outra casa de saúde gerida pelo estado? Foi a minha pergunta, para uma resposta negativa do médico. Isso deixa qualquer um impotente. Ou seja, na capital maranhense não existe  hospital de alta complexidade para estas situações. Diante disso, tive que voltar com a paciente semi morta para casa, pois nem o fato de se tratar de um idoso conta para um atendimento respeitoso, como deveria ser a todos.

No dia seguinte, em meio ao quadro mais agravado, resolvo chamar o SAMU pelo 192 (aquele serviço de emergência mantido pela prefeitura, que recentemente recebeu uma "frota de novas ambulâncias", que segundo o secretário municipal de saúde, daria mais agilidade ao atendimento). Bem, se essa tal agilidade demora 50 minutos, agora eu entendo quando um ouvinte do meu programa de rádio denunciava que um parente dele morreu esperando uma ambulância dessas, que só chegou com quase duas horas depois do chamado.

E jogaram minha mãe no corredor do Hospital Municipal Djalma Marques, o conhecido Socorrão I, no centro de São Luís, onde passamos o restante daquela sexta-feira (11) e o sábado (12), praticamente, como se tivessem jogado ali, apenas para esperar a morte chegar, pois as mais de 24 horas que passou por lá, a atenção dada a ela foi zero, a não ser quando eu ia reclamar com os enfermeiros para  que fosse administrado ao menos um soro nela.

Com muita dificuldade, apegando-me a amigos solidários, a internamos numa UTI do hospital do servidor do Estado, Dr. Carlos Macieira, onde ali, sim, houve um atendimento mais humano até seu último suspiro.

Mas voltando ao Socorrão I, posso resumi-lo como um depósito de seres humanos. Doentes espalhado irresponsavelmente por todos os lados e cantos. Enfermarias lotadas, corredores empilhados de homens e mulheres esperançosos por terem a vida salva. Tem paciente até na sala de espera. Tanto doente, que às vezes até se tem dificuldade de caminhar por entre eles. Macas espalhadas, ocupam cada milimetro do corredor principal. Algumas delas, parece estarem no chão, onde médicos e enfermeiros realizam o atendimento agachados ou com a coluna curvada, e a presença de bactérias é quase vista a olho nu. Um tratamento totalmente desumano, indecente, desrespeitoso oferecido pela gestão municipal a quem precisa da saúde púbica na cidade.

Pude presenciar, por exemplo, um paciente idoso, vindo do interior, que seu acompanhante o colocava para verter água dentro de um recipiente pet (descartável) porque não tinha o utensílio necessário para tal procedimento. E no local onde jogaram minha mãe, próximo a sala de medicação, eram três macas disputando o mesmo espaço, que nos impedia a locomoção.

A todo momento mais uma maca é acondicionada ao espaço suprimido, seja da capital ou do interior e ficam ali, contando mais com a sorte ou com força divina do que com providência humana. Posso garantir que as falhas não são dos profissionais que ali trabalham sem recursos, mas das condições da estrutura físicas e da logística que lhes são oferecidas para trabalhar. Realmente os gestores desconhecem a realidade e ficam por maquiando a realidade mentindo descaradamente.

A realidade é que transforaram a saúde publica em busness (um grande negócio, por sinal), onde os doentes mal atendidos e com seus direitos a saúde desrespeitados são contabilizados para a margem de lucros. É atriste realidade de nossa saúde pública, que eles instem, mentindo pra população que está muito bem obrigado.

Pois bem, e no mesmo dia do falecimento de minha mãe, se não bastasse a dor da perda, recebi outra notícia desagradável, a de que este blog (independente e ávido por uma sociedade mais justa, que denuncia e critica agentes públicos irresponsáveis e poderosos da política) estaria sendo processado pelo senador Roberto Rocha (PSB), candidato ao governo do Maranhão, por críticas fundamentada a ele dirigidas (Confira a matéria). Não fui notificado, mas segundo informação haveria uma representação jurídica movida contra mim pelo tucano.

Quer dizer, enquanto eu corria contra o tempo para salvar minha mãe que agonizava no corredor da morte da saúde pública, o candidato recorria a justiça, usando de artimanhas para tentar calar uma voz que o denunciava em atos que atentam contra a moral e a boa conduta de um ente público, pago com o dinheiro do contribuinte, com o meu dinheiro.

O curioso é que o blog nunca foi procurado pela assessoria do candidato para emitir nota contestando o conteúdo, baseado em fatos e denúncias. Ou seja, deu a impressão que agiram de má fé, pois preferiram usar da ameaça, talvez na tentativa de intimidar o titular deste blog, numa nítida atitude daqueles que afrontam a democracia e a liberdade de imprensa para manter escusas suas práticas ilícitas.

Aliás, na referida matéria, joguei limão nos seis candidatos, mas apenas um pelo visto, tinha ferida aberta. Acredito que os demais postulantes ao governo sejam menos vulneráveis a críticas.

E daqui, sem citar nomes, aproveito para agradecer aos companheiros que lutaram comigo para manter minha mãezinha viva, o que não era a vontade de Deus. Obrigado a todos (e não foram poucos, muitos deles que nem os conheço) que ligaram ou enviaram mensagens de pêsames, bem como aqueles que também manifestaram solidariedade a mim em repúdio ao que era pretendido por um político contra um profissional de imprensa.





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